Por Adriane Adami
Tarcísio estava gelado. Seu rosto moreno, pálido. Seu pulso sereno, acelerado. Seu olhar ingênuo insinuava culpa. Não se mexia. Sentava na sala, no sofá vermelho em frente ao corredor. Com um olhar petrificado procurava algo que não enxergava. Sua respiração ofegante podia ser ouvida até mesmo no segundo andar. Sua mão tremia, dedos fechados apontando para o chão. O olhar acompanhava a direção dos dedos, que repousavam sobre os joelhos. Mãos cansadas e machucadas como as de um cortador de cana em plena safra. Embora parecesse apenas exausto, seus olhos fora de órbita indicam que está ocultando algo.
Pela casa o silêncio era fatal. Até mesmo o bater das asas de uma mosca poderia ser escutado. Não havia uma viva alma em casa. Tarcísio pensava, inspirava, soluçava, expirava, pensava... Parecia esconder algo, mas não dava pra entender o quê.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum. O coração saia pela boca. Em meio à escuridão, meia hora se passara e nenhuma reação de Tarcísio. Havia cheiro de suspense no ar. A mão direita se escondia entre as pernas. Ele olhava para tudo, menos para ela. Fugia dela. A esquerda continuava suspensa sobre os joelhos. “Sim? Não? Sim? Não?”, pensava.
Um raio de luz amarela atravessou o buraquinho da persiana em direção ao sofá. Deu em cheio na mão direita de Tarcísio e outra luz refletiu. Tarcísio escondia algo. Engoliu uma, duas, três vezes a própria saliva. Tentou, mas fracassou. Fez cara feia. Sua boca estava seca e isso não lhe agradou.
A inquietação tomou conta do seu corpo. Esticou-se no sofá e enxergou pela frestinha da segunda porta que dava para o corredor. Uma luz tênue saia de lá. No chão, um cabernet sauvignon derramado.
Desviou o olhar. Aquele era seu quarto. Mas quem deitava no chão não era Tarcísio, era Amélia. Seu vestido decotado estava manchado de vermelho. Não, não era do vinho. Amélia não se mexia. Seus olhos estavam fechados. Não, ela não dormia. Tarcísio derramou uma lágrima, mas permaneceu imóvel. A gota escorreu pelo rosto, deslizou pela boca, e caiu na mão direita.
Estufa o peito e tira a mão direita de trás das pernas. Olha com sofrimento mas não se sente arrependido. A faca que seu pai – o açougueiro do bairro - lhe dera antes de morrer estava ensangüentada. Ele pisca, suspira, soluça. Olha para a faca, olha para a moça, olha de novo para a faca, olha de novo para a moça. Suspira. Chacoalha a cabeça. Eleva as mãos à altura do rosto. A faca cai.
Pela casa o silêncio era fatal. Até mesmo o bater das asas de uma mosca poderia ser escutado. Não havia uma viva alma em casa. Tarcísio pensava, inspirava, soluçava, expirava, pensava... Parecia esconder algo, mas não dava pra entender o quê.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum. O coração saia pela boca. Em meio à escuridão, meia hora se passara e nenhuma reação de Tarcísio. Havia cheiro de suspense no ar. A mão direita se escondia entre as pernas. Ele olhava para tudo, menos para ela. Fugia dela. A esquerda continuava suspensa sobre os joelhos. “Sim? Não? Sim? Não?”, pensava.
Um raio de luz amarela atravessou o buraquinho da persiana em direção ao sofá. Deu em cheio na mão direita de Tarcísio e outra luz refletiu. Tarcísio escondia algo. Engoliu uma, duas, três vezes a própria saliva. Tentou, mas fracassou. Fez cara feia. Sua boca estava seca e isso não lhe agradou.
A inquietação tomou conta do seu corpo. Esticou-se no sofá e enxergou pela frestinha da segunda porta que dava para o corredor. Uma luz tênue saia de lá. No chão, um cabernet sauvignon derramado.
Desviou o olhar. Aquele era seu quarto. Mas quem deitava no chão não era Tarcísio, era Amélia. Seu vestido decotado estava manchado de vermelho. Não, não era do vinho. Amélia não se mexia. Seus olhos estavam fechados. Não, ela não dormia. Tarcísio derramou uma lágrima, mas permaneceu imóvel. A gota escorreu pelo rosto, deslizou pela boca, e caiu na mão direita.
Estufa o peito e tira a mão direita de trás das pernas. Olha com sofrimento mas não se sente arrependido. A faca que seu pai – o açougueiro do bairro - lhe dera antes de morrer estava ensangüentada. Ele pisca, suspira, soluça. Olha para a faca, olha para a moça, olha de novo para a faca, olha de novo para a moça. Suspira. Chacoalha a cabeça. Eleva as mãos à altura do rosto. A faca cai.
Amélia estava morta.
*Conto produzido para a disciplina de Jornalismo e Literatura