Por Adriane Adami
Na cozinha, dentro da geladeira, em um saquinho minúsculo e apertado. Lá está ele. Remexo as sacolas, usadas para armazenar frutas e verduras em uma seção determinada do supermercado. Elas são transparentes, moles, e barulhentas. Ele está tão escondido em meio às embalagens que o perco de vista. O barulho aumenta. Alguem reclama dos ruídos que provoco em minha busca. Depois de algum tempo, paro, sorrio, e exclamo: achei!
Puxo uma cadeira, o coloco em um prato de vidro cor de rosa e começo a analisar.
Ele parece insignificante, mas na realidade tem características inigualáveis. Doce, ele não é. Amargo? Depende. Cítrico e azedo, talvez. Abri a primeira gaveta à minha direita e tirei uma faca. Cortei a fruta ao meio e um líquido transparente esverdeado brotou de dentro, banhando o talher e o prato.
Entre sumo e sementes cor creme e arredondadas, o limão exalava um perfume único. Uma mescla de azedo e acidez pouco vista em outros alimentos. Tomei uma decisão. Uma parte eu ia comer, a outra espremeria.
Na primeira mordida meus dentes arrepiaram, um calafrio percorreu a minha espinha e um calor invadiu meu corpo. Era completamente ácido, mas muito saboroso. Gostei da brincadeira, e fiquei ali, sugando e comendo até encostar meus dentes na casca amarga do limão. Já estava toda arrepiada quando comecei a espremer a fruta. O líquido parecia uma pequena correnteza. Oscilava entre a cavidade da minha boca, batia na margem dos meus dentes, driblava a língua e passava pela garganta até deslizar pelo esôfago. A cada gole, um arrepio e uma sensação de frescor.
O limão é peculiar e saboroso. Não podemos negar o poder e efeito que tem sobre nós. Uma aventura gastronômica. Uma degustação de arrepiar.