segunda-feira, 16 de julho de 2007

Uma Aventura Gastronômica*

Por Adriane Adami

Na cozinha, dentro da geladeira, em um saquinho minúsculo e apertado. Lá está ele. Remexo as sacolas, usadas para armazenar frutas e verduras em uma seção determinada do supermercado. Elas são transparentes, moles, e barulhentas. Ele está tão escondido em meio às embalagens que o perco de vista. O barulho aumenta. Alguem reclama dos ruídos que provoco em minha busca. Depois de algum tempo, paro, sorrio, e exclamo: achei!

Rasgo o saquinho com os dedos e envolvo, com a mão em forma de ninho, aquela fruta que se destaca. Redonda mas ao mesmo tempo oval. Um ponto preto e áspero bem na parte alta marca a coluna vertebral do alimento. Ele é verde reluzente. Em sua casca reflete a luz branca que atravessa o lustre amarelado.

Puxo uma cadeira, o coloco em um prato de vidro cor de rosa e começo a analisar.

Ele tem um odor amargo por fora e azedo por dentro. É uma fruta que muitos gostam mas pouquíssimos se atrevem a comer. Os sentidos se aguçam. Usando o tato percebo que sua superfície tem a mesma rugosidade e imperfeição que uma casca de noz. É ao mesmo tempo suave, úmida e desnivelada.

Ele parece insignificante, mas na realidade tem características inigualáveis. Doce, ele não é. Amargo? Depende. Cítrico e azedo, talvez. Abri a primeira gaveta à minha direita e tirei uma faca. Cortei a fruta ao meio e um líquido transparente esverdeado brotou de dentro, banhando o talher e o prato.

Entre sumo e sementes cor creme e arredondadas, o limão exalava um perfume único. Uma mescla de azedo e acidez pouco vista em outros alimentos. Tomei uma decisão. Uma parte eu ia comer, a outra espremeria.

Na primeira mordida meus dentes arrepiaram, um calafrio percorreu a minha espinha e um calor invadiu meu corpo. Era completamente ácido, mas muito saboroso. Gostei da brincadeira, e fiquei ali, sugando e comendo até encostar meus dentes na casca amarga do limão. Já estava toda arrepiada quando comecei a espremer a fruta. O líquido parecia uma pequena correnteza. Oscilava entre a cavidade da minha boca, batia na margem dos meus dentes, driblava a língua e passava pela garganta até deslizar pelo esôfago. A cada gole, um arrepio e uma sensação de frescor.

O limão é peculiar e saboroso. Não podemos negar o poder e efeito que tem sobre nós. Uma aventura gastronômica. Uma degustação de arrepiar.




*Observação realizada para a disciplina Projeto Experimental em Jornal - Será publicado na revista Ufa!